quinta-feira, 14 de abril de 2011

3º Seminário de Humanização das Assistências Obstétrica e Neonatal.


Passo 5 dos Dez passos para uma alimentação saudável: Guia alimentar para menores de dois anos.

Passo 5: A alimentação complementar deve ser espessa desde o início e oferecida de colher. Começar com consistência pastosa e, gradativamente, aumentar a consistência até chegar à alimentação da família.

  • As refeições, quanto mais espessas e consistentes, apresentam maior densidade energética (caloria/grama de alimento), comparadas com as dietas diluídas, do tipo sucos e sopas ralas.
  • Como a criança tem capacidade gástrica pequena e consome poucas colheradas no início da introdução dos alimentos complementares, é necessário garantir o aporte calórico com papas de alta densidade energética

  • Aos 6 meses, a trituração dos alimentos complementares é realizada com as gengivas que já se encontram suficientemente endurecidas (devido a aproximação dos dentes da superfície da gengiva).
  • A introdução da alimentação complementar espessa vai estimular a criança nas funções de lateralização da língua, jogando os alimentos para os dentes trituradores e no reflexo de mastigação.
  • Com 8 meses, a criança que for estimulada a receber papas com consistência espessa, vai desenvolver melhor a musculatura facial e a capacidade de mastigação. Assim, ela aceitará, gradativamente, com mais facilidade a comida da família a partir dessa idade.
  • É importante que o profissional de saúde reforce junto à mãe e ao cuidador o uso dos termos como papa ou comida. Procure não utilizar o termo sopa de legumes, pois esse dá a idéia de consistência líquida e semilíquida, sendo contra indicada para crianças, pois não fornece energia e nutrientes em quantidade suficiente.
  • No início da alimentação complementar, os alimentos oferecidos à criança devem ser preparados especialmente para ela. Os alimentos devem ser bem cozidos. Nesse cozimento deve sobrar pouca água na panela, ou seja, os alimentos devem ser cozidos em água suficiente para amaciá-los

  • Ao colocar os alimentos no prato, amassa-los com garfo. A consistência terá o aspecto paposo (papa/purê). A utilização do liquidificador e da peneira é totalmente contra indicada, porque a criança está aprendendo a distinguir a consistência, sabores e cores dos novos alimentos, além do que, os alimentos liquidificados não vão estimular o ato da mastigação.

Referências Bibliografica:
Dez passos para uma alimentação saudável: guia alimentar para menores de dois anos. Um guia para o profissional da saúde na atenção básica/MS, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica – 2 ed-Brasília 2010.

Passo 4 dos Dez passos para uma alimentação saudável: Guia alimentar para menores de dois anos.

Passo 4: A alimentação complementar deve ser oferecida de acordo com os horários de refeição da família, em intervalos regulares e de forma a respeitar o apetite da criança.

  • Crianças amamentadas desenvolvem muito cedo a capacidade de autocontrole sobre a ingestão de alimentos, de acordo com as suas necessidades, pelo aprendizado da saciedade e pela sensação fisiológica da fome, durante o período de jejum. Mais tarde, dependendo dos alimentos e da forma como lhe são oferecidos, também desenvolvem o autocontrole sobre a seleção dos alimentos.
  • É importante distinguir os sinais de fome de outras situações de desconforto da criança, como sede, sono, frio, calor ou fraldas molhadas ou, sujas, necessidade de carinho e presença da mãe/pai.
  • Não oferecer comida ou insistir para a criança comer quando ela não está com fome. Esquemas rígidos de alimentação prejudicam o adequado desenvolvimento do autocontrole da ingestão alimentar pela criança.
  • Oferecer a alimentação complementar sem rigidez de horários, com intervalos regulares (2 a 3 horas), para que a criança sinta a necessidade de se alimentar (fome). O tamanho da refeição está relacionado positivamente com os intervalos entre as refeições. Isso é, grandes refeições estão associadas a longos intervalos e vice-versa.
  • Nos primeiros dias de oferta de alimentos complementares, a mãe pode oferecer leite materno, caso a criança demonstre que ainda está com fome.
  • Não castigue ou ofereça prêmios para a criança que não comeu a quantidade considerada necessária. Algumas crianças precisam ser estimuladas a comer, nunca forçadas. Mães/pais/cuidadores podem se ver tentados a oferecer alimentos a toda hora, mesmo quando a criança não esteja sentindo fome.
  • A criança que inicia a alimentação complementar está aprendendo a testar novos sabores e texturas de alimentos e sua capacidade gástrica é pequena. Após os 6 meses a capacidade gástrica do bebê é de 20 a 30ml/kg de peso.

Referências Bibliografica:
Dez passos para uma alimentação saudável: guia alimentar para menores de dois anos. Um guia para o profissional da saúde na atenção básica/MS, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica – 2 ed-Brasília 2010.

Passo 3 dos Dez passos para uma alimentação saudável: Guia alimentar para menores de dois anos.

Passo 3: Após 6 meses, dar alimentos complementares (cereais, tubérculos, carnes, leguminosas, frutas e legumes) três vezes ao dia, se a criança estiver em aleitamento materno.
  • Os alimentos complementares especialmente preparados para a criança são chamados de alimentos de transição e contribuem com o fornecimento de energia, proteínas, vitaminas e minerais, além de preparar a criança para a formação dos hábitos alimentares saudáveis.
  • Complementa-se a oferta de leite materno com alimentos saudáveis que são mais comuns à região e ao hábito alimentar da família.
  • A introdução dos alimentos complementares deve ser feita com colher ou copo, no caso de oferta de líquidos.
  • A partir do momento que a criança começa a receber qualquer outro alimento, a absorção do ferro do leite materno reduz significativamente, por esse motivo a introdução de carnes e vísceras (ex. fígado, coração, moela), mesmo que seja em pequena quantidade, é muito importante.
  • Para aumentar a absorção do ferro presente nos alimentos de origem vegetal, como por exemplo, os vegetais verde-escuro, é importante o consumo de alimentos fonte de vitamina C, junto ou logo após a refeição.
Esquema alimentar para crianças amamentadas

Após completar 6 meses
Após completar 7 meses
Após completar 12 meses
Leite materno sob livre demanda
Leite materno sob livre demanda
Leite materno e fruta ou cereal ou tubérculo
Papa de fruta
Papa de fruta
Fruta
Papa salgada
Papa salgada
Refeição básica da família
Papa de fruta
Papa fruta
Fruta ou pão simples ou tubérculo ou cereal
Leite materno
Papa salgada
Refeição básica da família

Obs.1: o ovo inteiro e cozido pode ser introduzido aos 6 meses.
Obs.2: Ao completar 8 meses, a criança já pode receber gradativamente a alimentação básica da família desde que não muito temperada, sem alimentos industrializados e gordurosos (ex. bacon, banha, lingüiça), com pouco sal e oferecidos amassados, desfiados, triturados ou picados em pequenos pedaços.
  • A papa salgada deve conter um alimento de cada grupo.
Grupos de alimentos

Cereais e tubérculos
Exemplos: Arroz, aipim (mandioca, macaxera), batata-doce, macarrão, batata, cará, farinhas, batata-baroa e inhame.
Legumes, verduras e frutas
Exemplos: Folhas verdes, laranja, abóbora (jerimum), banana, beterraba, abacate, quiabo, mamão, cenoura, melancia, tomate, manga, caju, maça, caqui, limão, abacaxi, acerola, goiaba, kiwi.
Carnes e Ovos
Exemplos: Frango, codorna, peixe, pato, boi, vísceras (miúdos) e ovos.
Leguminosas (grãos)
Exemplos: Feijões, lentilha, ervilha seca, soja e grão-de-bico.


Referências Bibliografica:
Dez passos para uma alimentação saudável: guia alimentar para menores de dois anos. Um guia para o profissional da saúde na atenção básica/MS, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica – 2 ed-Brasília 2010.

Passo 2 dos Dez passos para uma alimentação saudável: Guia alimentar para menores de dois anos.

Passo 2: A partir dos 6 meses, introduza de forma lenta e gradual outros alimentos, mantendo o leite materno até os 2 anos de idade ou mais.

  • A partir dos 6 meses, as necessidades nutricionais da criança já não são mais atendidas só com o leite materno, embora este ainda continue sendo uma fonte importante de calorias e nutrientes.
  • A partir dos 6 meses o reflexo de protrusão da língua diminui progressivamente, o que facilita a ingestão de alimentos semissólidos, as enzimas digestivas são produzidas em quantidades suficientes para essa nova fase; e a criança desenvolve habilidade para sentar-se, facilitando a alimentação oferecida por colher.
  • A introdução dos alimentos complementares deve ser lenta e gradual (aos poucos).
  • No início, a criança pode rejeitar as primeiras ofertas, porque tudo para ela é novidade (a colher, o sabor e a consistência do alimento).
  • Mesmo recebendo outros alimentos, a criança deve continuar a mamar no peito até os dois anos ou mais: O leite materno continua alimentando a criança e protegendo-a contra doenças.
  • Há crianças que se adaptam facilmente às novas etapas e aceitam muito bem os novos alimentos. Outras precisam de mais tempo, não precisando esse fato ser motivo de ansiedade e angustia para as mães.
  • No início da introdução dos alimentos, a quantidade que a criança ingere pode ser pequena. Após a refeição, se a criança demonstrar sinais de fome poderá ser amamentada.
  • Nesta fase, é necessário oferecer água tratada, filtrada, nos intervalos das refeições.
  • As frutas, legumes e verduras produzidas na sua região apresentam na sua composição importantes vitaminas e minerais que contribuem para o crescimento das crianças.

Esquema para introdução dos alimentos complementares

IDADE
TIPO DE ALIMENTO
Até completar 6 meses
Aleitamento materno exclusivo
Ao completar 6 meses
Leite materno, papa de fruta, papa salgada
Ao completar 7 meses
Segunda papa salgada
Ao completar 8 meses
Gradativamente passar para a alimentação da família
Ao completar 12 meses
Comida da família


Referências Bibliografica:
Dez passos para uma alimentação saudável: guia alimentar para menores de dois anos. Um guia para o profissional da saúde na atenção básica/MS, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica – 2 ed-Brasília 2010.

Passo 1 dos Dez passos para uma alimentação saudável: Guia alimentar para menores de dois anos.


Passo 1: Dar somente leite materno até os 6 meses, sem oferecer água, chás ou qualquer outro alimento.


  • O leite materno contém a quantidade de água suficiente para as necessidades do bebê, mesmo em climas quentes e secos;
  • A oferta de água e chás diminui o volume de leite materno ingerido, que é mais nutritivo, além de aumentar os riscos de doenças;
  • É importante esvaziar as mamas e o tempo para que isso ocorra depende do ritmo de cada bebê (há aquele que consegue faze-lo em poucos minutos e aquele que o faz em trinta minutos ou mais);
  • É importante estar numa posição confortável ao amamentar e descanse o máximo que puder;
  • Se sentir dor nas mamas ao amamentar, é importante procurar ajuda porque pode ser que a posição e a pega estejam inadequadas;
  • Sinais indicativos de que a criança está mamando de forma adequada:
Boa posição:
ü      O pescoço do bebê está ereto ou um pouco curvado para trás, sem estar distendido;
ü      O corpo da criança está voltado para o corpo da mãe (bem próximo ao da mãe e cabeça e coluna alinhados);
ü      Todo o corpo do bebê recebe sustentação, o bebê e a mãe devem estar confortáveis.
Boa pega:
ü      A boca está bem aberta;
ü      O queixo está tocando a mama;
ü      Lábio inferior virado para fora;
ü      Há mais aréola visível acima da boca do que abaixo;
ü      Ao amamentar, a mãe não sentir dor no mamilo.


Referências Bibliografica:
Dez passos para uma alimentação saudável: guia alimentar para menores de dois anos. Um guia para o profissional da saúde na atenção básica/MS, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica – 2 ed-Brasília 2010.

Alimentação da criança

5ª parte: Dez passos para uma alimentação saudável: Guia alimentar para menores de dois anos.

Passo 1: Dar somente leite materno até os 6 meses, sem oferecer água, chás ou qualquer outro alimento.

Passo 2: A partir dos 6 meses, introduzir de forma lenta e gradual outros alimentos, mantendo o leite materno até os dois anos de idade ou mais.

Passo 3: Após 6 meses, dar alimentos complementares (cereais, tubérculos, carnes, leguminosas, frutas e legumes) três vezes ao dia, se a criança estiver em aleitamento materno.

Passo 4: A alimentação complementar deve ser oferecida de acordo com os horários de refeição da família, em intervalos regulares e de forma a respeitar o apetite da criança.

Passo 5: A alimentação complementar deve ser espessa desde o início e oferecida de colher, iniciar com a consistência pastosa (papas/purês) e, gradativamente, aumentar a consistência até chegar à alimentação da família.

Passo 6: Oferecer à criança diferentes alimentos ao dia. Uma alimentação variada é uma alimentação colorida.

Passo 7: Estimular o consumo diário de frutas, verduras e legumes nas refeições.

Passo 8: Evitar açúcar, café, enlatados, frituras, refrigerantes, balas, salgadinho e outras guloseimas, nos primeiros anos de vida. Usar sal com moderação.

Passo 9: Cuidar da higiene no preparo e manuseio dos alimentos; garantir o seu armazenamento e conservação adequados.

Passo 10: Estimular a criança doente e convalescente a se alimentar, oferecendo sua alimentação habitual e seus alimentos preferidos, respeitando a sua aceitação.

Nos próximos números os passos serão apresentados mais detalhadamente.

Referências Bibliografica:
Dez passos para uma alimentação saudável: guia alimentar para menores de dois anos. Um guia para o profissional da saúde na atenção básica/MS, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica – 2 ed-Brasília 2010.

Contaminação do leite materno por agrotóxicos é alarmante

A repórter Manuela Azenha esteve em Cuiabá, Mato Grosso, onde assistiu à defesa de tese da pesquisadora Danielly Palma. A ela coube pesquisar o impacto dos agrotóxicos em mães que estavam amamentando na cidade de Lucas do Rio Verde. A seguir, o relato:
Lucas do Rio Verde é um dos maiores produtores de grãos do Mato Grosso, estado vitrine do agronegócio no Brasil. Apesar de apresentar alto IDH (índice de desenvolvimento humano), a exposição de um morador a agrotóxicos no município durante um ano é de aproximadamente 136 litros por habitante, quase 45 vezes maior que a média nacional — de 3,66 litros.
Desde 2006, ano em que ocorreu um acidente por pulverização aérea que contaminou toda a cidade, Lucas do Rio Verde passou a fazer parte de um projeto de pesquisa coordenado pelo médico e doutor em toxicologia, Wanderlei Pignatti, em parceria com a Fiocruz. A pesquisa avaliou os resíduos de agrotóxicos em amostras de água de chuva, de poços artesianos, de sangue e urina humanos, de anfíbios, e do leite materno de 62 mães. A pesquisa referente às mães coube à mestranda da Universidade Federal do Mato Grosso, Danielly Palma.
A pesquisa revelou que 100% das amostras indicam a contaminação do leite por pelo menos um agrotóxico. Em todas as mães foram encontrados resíduos de DDE, um metabólico do DDT, agrotóxico proibido no Brasil há mais de dez anos. Dos resíduos encontrados, a maioria são organoclorados, substâncias de alta toxicidade, capacidade de dispersão e resistência tanto no ambiente quanto no corpo humano.
No dia seguinte à defesa de sua tese, Danielly concedeu uma entrevista ao Viomundo. Reportagem de Manuela Azenha, de Cuiabá (MT), publicada no sítio Vi o Mundo.
Viomundo – A sua pesquisa faz parte de um projeto maior?
Danielly Palma – Minha pesquisa foi um subprojeto de uma avaliação que foi realizada em Lucas do Rio Verde e eu fiquei responsável pelo indicador leite materno. Mas a pesquisa maior analisou o ar, água de chuva, sedimentos, água de poço artesiano, água superficial, sangue e urina humanos, alguns dados epidemiológicos, má formação em anfíbios.
Viomundo – E essas pesquisas começaram quando e por que?
Danielly Palma – Começamos em 2007. A minha parte foi no ano passado, de fevereiro a junho. Lucas do Rio Verde foi escolhido porque é um dos grandes municípios produtores matogrossenses, tanto de soja quanto de milho e, consequentemente, também é um dos maiores consumidores de agrotóxicos. Em 2006, quando houve um acidente com um desses aviões que fazem pulverização aérea em Lucas, o professor Pignati, que foi o coordenador regional do projeto, foi chamado para fazer uma perícia no local junto com outros professores aqui da Universidade Federal do Mato Grosso. Então, começaram a entrar em contato com o pessoal e viram a necessidade de desenvolver projetos para ver a que nível estava a contaminação do ambiente e da população de Lucas.
Viomundo – E qual é o nível de contaminação em que a população de Lucas se encontra hoje? O que sua pesquisa aponta?
Danielly Palma – Quanto ao leite materno, 100% das amostras indicaram contaminação por pelo menos um tipo de substância. O DDE, que é um metabólico do DDT, esteve presente em 100%, mas isso indica uma exposição passada porque o DDT não é utilizada desde 1998, quando teve seu uso proibido. Mas 44% das amostras indicaram o beta-endossulfam, que é um isômero do agrotóxico endossulfam, ainda hoje utilizado. Ele teve seu uso cassado, mas até 2013 tem que ir diminuindo, que é quando a proibição será definitiva. É preocupante, porque é um organoclorado que ainda está sendo utilizado e está sendo excretado no leite materno.
Viomundo – Foram essas duas substâncias as registradas?
Danielly Palma – Não, tem mais. Foi o DDE em 100% das mães [que estão amamentando]; beta-endossulfam  em 44%; deltametrina, que é um piretróide, em 37%; o aldrin em 32%; o alpha-endossulfam, que é outro isômero do endossulfam, em 32%; alpha-HCH, em 18% das mães,  o DDT em 13%; trifularina, que é um herbicida, em 11%; o lindano, em 6%.

Viomundo – E o que essas susbstâncias podem causar no corpo humano?
Danielly Palma – Todas essas substâncias tem o potencial de causar má formação fetal, indução ao aborto, desregulamento do sistema endócrino — que é o sistema que controla todos os hormônios do corpo — então pode induzir a vários distúrbios. Podem causar câncer, também. Esses são os piores problemas.
Viomundo – Você disse que as mães foram expostas há mais de dez anos. As substâncias permanecem no corpo por muito tempo?
Danielly Palma – Permanecem. No caso dos organoclorados, de todas as substâncias analisadas, o endossulfam é o único que ainda está sendo utilizado. Desde 1998 os organoclorados foram proibidos, a pesquisa foi realizada em 2010, e a gente encontrou níveis que podem ser considerados altos. Mesmo tendo sido uma exposição passada, como as substâncias ficam muito tempo no corpo, esses sintomas podem vir a longo prazo.
Viomundo – Durante a sua defesa de mestrado, em que essa pesquisa foi apresentada, os membros da banca ressaltaram o quanto você sofreu para realizar a pesquisa. Quais foram as maiores dificuldades?
Danielly Palma – A minha maior dificuldade foi em relação à validação do método. Porque, quando você vai pesquisar agrotóxicos, tem de ter uma precisão muito grande. Como são dez substâncias com características diferentes, quando acertava a validação para uma, não dava certo para outra. Então, para ter um método com precisão suficiente para a gente confiar nos resultados, para todas as substâncias, foi um trabalho que exigiu muita força de vontade e tempo. Foi praticamente um ano só para validar o método.
Viomundo – Essas mães que foram contaminadas exercem ou exerceram que tipo de atividade? Como elas foram expostas ao agrotóxico?
Danielly Palma – Das 62 mulheres que eu entrevistei, apenas uma declarou ter contato direto com o agrotóxico. Ela é engenheira agrônoma e é responsável por um armazém de grãos. Três mães residem na zona rural, trabalhando como domésticas nas casas dos donos das fazendas. É difícil dizer que quem está longe da lavoura não está exposto em Lucas do Rio Verde, pela localização da cidade, com as lavouras ao redor. Mas a maioria das entrevistadas trabalha no comércio, são professoras do município, algumas donas de casa, mas não são expostas ocupacionalmente. A questão é o ambiente do município.

Viomundo – Mas a contaminação se dá pelo ar, pela alimentação?
Danielly Palma -  A alimentação é uma das principais vias de exposição. Mas, por se tratar de clorados, que já tiveram seu uso proibido, então eu posso dizer que o ambiente é o que está expondo, porque também se acumulam no ambiente. No caso da deltametrina e do endossulfam, que ainda são utilizados, o uso atual deles é que está causando a contaminação. Mas, nos usos passados [dos agrotóxicos agora proibidos], a causa provavelmente foi a exposição à alimentação — na época em que eram utilizados — e o próprio meio ambiente contaminado.

Viomundo – Quais são as principais propriedades dessas substâncias encontradas?
Danielly Palma – Os organoclorados têm em comum entre si os átomos de cloro na sua estrutura, o que dá uma grande toxicidade a eles. Eles têm alta capacidade de se armazenar na gordura, alta pressão no vapor e o tempo de meia-vida deles é muito longo, por isso que para se degradar demora muito tempo. São altamente persistentes no ambiente, tanto nos sedimentos, solo, corpo humano, e têm a capacidade de se dispersar. Tanto que no Ártico, onde eles nunca foram aplicados, são encontrados resíduos de organoclorados.
Viomundo – O professor Pignati comentou que a Secretaria da Saúde dificultou um pouco a pesquisa de vocês, mas que vocês fizeram questão da participação do governo. Por que?
Danielly Palma – Nós vimos a importância da participação deles porque, quando a exposição da população está num nível elevado e está tendo uma incidência maior de certas doenças, é lá na ponta que isso vai estourar, é no PSF (Programa Saúde da Família). Então, a gente queria que a Secretaria da Saúde acompanhasse para ver em que nível de exposição essa população está e para que  tome medidas. Para que recebam essas pessoas com algum problema de saúde e saibam diagnosticar, saibam de onde está vindo e o porquê de tantas incidências de doenças no município.
Viomundo – Se a maioria dessas substâncias não está mais sendo utilizada, o que pode ser feito daqui para frente para diminuir o impacto delas sobre o ambiente e a saúde?
Danielly Palma – Em relação a essas substâncias que não estão sendo mais utilizadas, infelizmente, não temos mais nada a fazer. Já foram lançadas no ambiente e nos organismos das pessoas. A gente pode parar e pensar no modelo de desenvolvimento que está sendo posto, com esse alto consumo de agrotóxico e devemos tomar cuidado com as substâncias que ainda estão sendo utilizadas para tentar evitar um mal maior.
Viomundo – Como que o agrotóxico pode afetar o bebê?
Danielly Palma – Esses agrotóxicos são lipofílicos e se acumulam no tecido gorduroso, então ficam no organismo e passam para o sangue da mãe. Através da placenta, como há troca de sangue entre mãe e feto, acabam atingindo o feto. E alguns tem a capacidade de passar a barreira da placenta e atingir o feto. Durante a lactação, o agrotóxico acaba sendo excretado pelo leite humano.
Viomundo – Então, mesmo que não amamente o filho, ele pode nascer com resíduo de agrotóxico?
Danielly Palma – Sim, isso se a contaminação da mãe for muito elevada.
Viomundo – Foi o caso nas mães [pesquisadas] de Lucas do Rio Verde?
Danielly Palma – Alguns níveis [encontrados] consideramos altos, até porque o leite humano deveria ser isento de todas essas substâncias. Deveria ser o alimento mais puro do mundo. E a gente vê que isso não ocorre, tanto nos meus resultados quanto em trabalhos realizados no mundo inteiro que evidenciaram essa contaminação. A criança acaba sendo afetada desde a vida uterina e depois na amamentação é mais uma quantidade de agrotóxicos que ela vai receber. Mas é sempre bom lembrar do risco-benefício do aleitamento materno. Nunca se deve incentivar a mãe a parar de amamentar porque seu leite está contaminado. As vantagens do aleitamento materno são muito maiores do que os riscos da carga contaminante que o leite pode vir a ter.
Viomundo – Quais os riscos dessa contaminação?

Danielly Palma
– Os riscos saberemos somente com um acompanhamento a longo prazo dessas crianças. O que pode acontecer são problemas no desenvolvimento cognitivo e, dependendo da carga que o bebê receba desde a gestação, pode causar má formação, que pode só ser percebida mais tarde.
Viomundo – Esse acompanhamento dos efeitos dos agrotóxicos no corpo humano já foi feito ou ainda é uma coisa a fazer?
Danielly Palma – Quanto ao sistema endócrino, existem evidências. Estudos comprovaram a interferência dos agrotóxicos. Quanto a câncer, má formação e ações teratogênicas (anomalias e malformações ligadas a uma perturbação do desenvolvimento embrionário ou fetal),  estudos realizados em animais apontam para uma possivel ação dos agrotóxicos nesse sentido. Mas no ser humano não tem como você testar uma única substância. Quando fazem pesquisas, sempre são encontradas mais de uma substância no organismo e, portanto, não se sabe se é uma ação conjunta dessas substâncias que elevou aquele efeito ou se foi a ação de uma substância apenas.

Viomundo – Os resultados da pesquisa são alarmantes?
Danielly Palma – Foram alarmantes, mas ao mesmo tempo já esperávamos por esse resultado, até porque já tínhamos em mãos resultados da parte ambiental. Vimos que a exposição da população estava muito alta. Com o ambiente contaminado daquela forma, já era esperado encontrar a contaminação do leite, uma vez que o ambiente influencia na contaminação humana também.

Viomundo  – O que será feito com esses resultados?


Danielly Palma
– Os resultados já foram encaminhados às mães e, no início do projeto, assumimos o compromisso de, no final, nos reunirmos com elas e explicarmos os resultados. Esperamos que as autoridades do município e de todas as regiões produtoras acordem para o modelo de desenvolvimento que eles estão adotando, porque não adianta ter um IDH alto, ter boa educação e sistema de saúde, se a qualidade de vida em termos de exposição ambiental é péssima.
Para ler  entrevista com o professor Wanderlei Pignati, que coordenou toda a pesquisa, clique aqui.
Para ler  entrevista com a professora Raquel Rigotto, que pesquisa o mesmo assunto no Ceará, clique aqui.

EcoDebate, 30/03/2011