terça-feira, 7 de abril de 2015

Amamentação e a Coleta do Teste do Pezinho

Depois de comparar o comportamento de 60 recém-nascidos no Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina (FM) da USP de Ribeirão Preto, submetidos ao "teste do pezinho", a enfermeira Adriana Moraes Leite concluiu que o aleitamento materno reduz a dor causada pela coleta de sangue para o exame nos bebês. O teste, usado para determinar erros inatos do metabolismo, como fenilcetonúria, hipotireoidismo e anemia falciforme, provoca dor aguda devido ao uso de uma lanceta para extrair o sangue do calcanhar dos recém-nascidos. Adriana comparou a frequência cardíaca, a mímica facial, o estado de sono e vigília e o comportamento de auto-regulação dos bebês, bem como o comportamento das mães. A amamentação, de acordo com a enfermeira, ajudou a normalizar a frequência cardíaca dos recém-nascidos. "Antes do teste, a média era de 134 batimentos por minuto", relata Adriana, professora da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP. "Enquanto os bebês amamentados voltaram ao ritmo normal no período de recuperação, os que não mamaram tiveram em média 189 batimentos cardíacos a cada minuto." Para medir o comportamento dos bebês durante o exame, a pesquisadora usou uma escala de 1 a 6, na qual o nível 1 corresponde ao sono profundo e o 6 ao choro. "Durante a fase de coleta, somente 45,2% dos bebês amamentados choraram, enquanto foi registrado choro em todos os recém-nascidos que não amamentaram", afirma. "Na etapa de recuperação, após a extração do sangue, o choro entre os não amamentados chegou a 75,9%, contra 6,5% entre os que mamaram”. Os 31 bebês envolvidos na pesquisa foram amamentados a partir dos cinco minutos anteriores ao exame. "Duas câmeras de vídeo registraram suas reações, antes do teste, na fase de coleta do sangue (antissepsia, punção e ordenha) e no período de recuperação, cinco minutos após a obtenção das amostras”. Os recém-nascidos amamentados apresentaram estágios diferentes de sono, sendo que 25% atingiram o sono profundo. "Na coleta, 41% dos bebês amamentados apresentaram sono ativo, ou seja, estavam de olhos fechados, mas se movimentavam, inclusive com a sucção da mama materna." Para medir as principais reações faciais de dor dos bebês, foi usada a escala NFCS (Neonatal Facial activity Coding System, "Sistema de Codificação da Atividade Facial Neonatal"), elaborada pela pesquisadora canadense Ruth Grunau. Para a ocorrência de sinais como fronte saliente, olhos apertados e sulco nasolabial aprofundado, atribuem-se valores que indicam maior ou menor intensidade de dor. O índice, no momento da coleta, foi de 6,45 para os amamentados, enquanto nos não amamentados, a média foi 10. Apesar da pesquisa evidenciar que bebês amamentados durante a coleta do teste do pezinho sentem menos dores, que o leite materno normaliza a frequência cardíaca com mais rapidez após exame e que durante a coleta de sangue o choro é reduzido, a amamentação durante o teste ainda é pouco usual nos serviços de saúde. Fonte: Agência USP de Notícias. www.usp.br/agenciausp e agenusp@usp.br.

Mil Dias que definem a saúde futura da criança: a janela de oportunidades

A revista The Lancet publicou em 2008 estudos focando um conjunto de intervenções ou “janela de oportunidades” no período de “mil dias” compreendido entre a gestação e os dois primeiros anos de vida, que apresentam um alto impacto na redução da mortalidade infantil e nos danos ao crescimento e neuro-desenvolvimento da criança. A subnutrição na infância tem como principais causas: a restrição de crescimento intrauterino (RCIU), o déficit de nutrientes e/ou a presença de doenças infecciosas especialmente nos dois primeiros anos de vida. As intervenções propostas são: cuidados no pré-natal e alimentação adequada a gestante e durante a lactação; alimentos enriquecidos e suplementos aos mais necessitados; em risco de subnutrição assegurar acesso a alimentos e nutrientes para a manutenção da saúde. No entanto, a ”janela de oportunidades“ extrapola a questão da subnutrição, é considerada inclusive a possível relação do aparecimento futuro de doenças crônicas não transmissíveis por alterações epigenéticas dela decorrente. Questiona-se ainda o excesso de alimentos, a inadequação dietética de micronutrientes e os erros alimentares que podem levar a obesidade. Há evidências de que o padrão de crescimento nos primeiros anos de vida seja influenciado pelo padrão de crescimento fetal, especialmente nos RN com RCIU, com repercussão não só metabólica como cognitiva e no desenvolvimento de doenças crônicas. Uma das teorias aceitas é que a RCIU causa alterações em diversos “eixos hormonais” que combinados a estímulos ambientais se perpetuam ao longo da vida. A importância do aleitamento materno: - Crianças que recebem leite materno apresentam uma cinética de crescimento e desenvolvimento mais adequada do que as que recebem fórmulas; - Diferenças constitucionais entre o leite materno e as fórmulas infantis, como a quantidade de calorias e proteínas, podem provocar diferentes respostas insulinêmicas. Outro fator a ser considerado é a frequência da sucção diferenciada do RN em aleitamento materno assim como o maior grau de controle por este do leite a ser ingerido; - O leite materno oferece quantidades adequadas de macronutrientes e apresenta teores elevados de nutrientes essenciais para o desenvolvimento neuropsicomotor e cognitivo, como os LCPUFA (ácidos graxos polinsaturados de cadeia longa) Na impossibilidade do aleitamento materno, as fórmulas infantis devem apresentar quantidade e qualidade adequada de proteínas e perfil satisfatório de aminoácidos ao lactente. Fonte: Atualização realizada pela Sociedade de Pediatria de São Paulo, 2012.