sexta-feira, 17 de julho de 2015

HUMANIZANDO O NASCIMENTO - Continuação 2


"Humanizar o nascimento é restituir o lugar de protagonista à mulher"
 
Para muitos as últimas medidas governamentais em relação ao controle mais rígido da utilização de cesarianas foram ações bruscas, repentinas, e excessivamente severas. Afinal, a cesariana como método de nascimento está arraigada no imaginário de muitas mulheres - em especial no Brasil - como um método seguro, limpo, moderno e indolor, mesmo que a realidade seja bem diferente desta imagem. Ainda que muitos profissionais concordem que existe “algum exagero” na realização desse procedimento, a reação da categoria médica foi de desaprovação. Para os ativistas da Humanização do Nascimento, todavia, tais medidas são a culminância de mais de 20 anos de lutas para que as mulheres tivessem plenos direitos de escolha, uma assistência centrada na fisiologia e uma postura embasada em ciência por parte dos cuidadores. Para os humanistas do nascimento, as medidas não foram bruscas e muito menos severas: foram à culminância de propostas de mais de duas décadas.
 
Mas porque a crise na atenção ao parto?
 
Somos herdeiros de uma cultura que acredita estar à saúde "fora do corpo", e magicamente acondicionada em drágeas, pílulas, comprimidos e injeções. Esta modificação na forma como compreendemos a busca pelo equilíbrio (de um modelo interno, para um modelo externo) produz repercussões em toda a sociedade contemporânea, onde a "saúde" e o "bem-estar" são vendidos como produtos, alienando o indivíduo da responsabilidade de encontrá-los por si mesmo.
 
Essa ideologia “exógena”, quando aplicada ao nascimento humano, gera a série de problemas que vemos hoje em dia relacionados com a extrema artificialização da vida. O aumento das cesarianas é um bom exemplo deste exagero. Esta que deveria ser uma cirurgia salvadora acabou sendo banalizada ao extremo, e um percentual muito grande de mulheres acaba optando pela sua realização sem uma noção exata dos riscos a ela associados. A Organização Mundial da Saúde (OMS) determina que não mais de 10 a 15% dos partos podem terminar em uma cesariana. Incrivelmente, num mundo em que os indicadores de saúde melhoram em função do incremento nas condições sociais, a mortalidade materna aumentou nos últimos anos nos Estados Unidos, principalmente às custas do aumento de cesarianas naquele país.
 
A sociedade está se dando conta de que o modelo tecnocrático existente não está mais oferecendo a qualidade de saúde que as mulheres exigem, e se une através das múltiplas formas de representatividade, para discutir o destino do nascimento no nosso país. É desse caldo social e cultural que surgem as organizações de mulheres, de profissionais, governamentais e a própria mídia para impulsionar as mudanças que a sociedade exige no que tange à segurança para mães e bebês.
 
CAMINHOS PARA A HUMANIZAÇÃO
A mobilização em torno de um parto mais humano e seguro é um evento político, porque tem a ver com a expressão social de valores!
 Existem várias formas de trabalhar com essa necessária reformulação. Primeiro, é importante entender a necessidade desta reavaliação. A intromissão da tecnologia em todos os setores da nossa vida cotidiana nos cria a sensação incômoda de que estamos perdendo nossa essência.
 
A humanização do nascimento opera na contramão da aventura tecnológica, questionando a invasão de nossas mentes e corpos por elementos estranhos. Além do mais, essa mobilização em torno de um parto mais humano e seguro é um evento político, porque tem a ver com a expressão social dos valores mais profundos que nos sustentam. Somos seres sociais e a nossa ação política significa organizar e mobilizar pessoas em torno de ideais comuns.
 
Ricardo Herbert Jones é ginecologista, obstetra e homeopata.






 
 

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